segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Ayahuasca - O que senti.

Estávamos em uma chácara a céu aberto. Quinto dia de lua crescente, ou seja, já quase totalmente cheia clareando a noite, com algumas poucas estrelas a vista. Colchões espalhados ao redor de uma piscina, com algumas arvores, e uma majestosa fogueira compunham a paisagem alcançada pelas minhas vistas. Um som toca bem alto músicas próprias para o ritual xamânico de Ayahuasca, com frequência específica para potencializar o efeito do chá.
Não quis deitar de início... Fiquei sentada em meu colchão contemplando ora o céu ora o fogo. Um leve vento tomava conta do local, e com isso tomei ciência que estava ali rodeada dos 4 elementos Terra, ar, fogo e água, e isso me fez interagir mais profundamente com o momento.
Contemplei o por longos minutos, sorrindo feliz por estar ali consciente e entregue. Nessa hora acho que o chá começava a fazer efeito. As labaredas da fogueira pareciam estar vivas! Dançavam lentamente, sendo lambidas pelo vento em movimentos que me fascinavam. Não conseguia tirar os olhos. Subiam pequenas cinzas das pontas das labaredas para o céu, e tinha uma arvore ao lado que refletia a luz laranja do fogo, balançando ao vento. Tinha a sensação de que dentro de mim aquela arvore estava dançando, junto com as batidas dos tambores indígenas das músicas que ecoavam.
Depois de um bom tempo sentada, resolvi que era hora de deitar. Contemplando o céu até perceber que ele todo caia muito lentamente... Todo o céu as estrelas, a lua algumas nuvens desciam em cima de mim. Eu girava a cabeça pra olhar todo o céu que pude alcançar ele todo mexia devagarinho, queria levantar os braços pra tentar tocar as estrelas, porque eu achava que realmente podia tocar! Mas não mexi os braços. Parece que ficamos inertes, sem atitude. Queria levantar, andas descalça na grama, molhar as mãos na piscina, colocar minha blusa de frio, mas não. Uma força interior maior me deixava parada olhando o céu.
Resolvi deitar de lado. Acho que o momento que os efeitos do chá chegariam ao ápice estava chegando. Me cobri, pois, começava a fazer um frio pungente pelo meu corpo, junto com sensações de formigamento nos pés. Passei a dar tiques. Tipo aqueles pulinhos que damos quando estamos quase dormindo ou quase acordando.
Senti uns pinicões no rosto. Passei a me coçar um pouco.  Fui sentindo todas as minhas emoções possíveis passando pelo meu corpo. Era muito estranho! O medo, a angustia, a tristeza, a alegria, a revolta, o ciúme, a posse era tangível. Eu as sentia passarem pelo meu corpo, podia tocar o medo, apertar a angustia, empurrar o ciúme. Pra mim essas sensações duraram muitos minutos. Batia muita raiva de estar ali, de ter ido, um sono gigante tomando conta do meu corpo. Cochilei algumas vezes, mas acordava em segundos com a ideia que estava em casa, mas não...as emoções estavam ali ainda. Sentia um frio enorme, mas era um frio diferente, ele tocava meu corpo embaixo da coberta quentinha, mas não me feria, não era um frio ruim, era muito bom.
Comecei a sentir muita angustia. Puxava minhas roupas, tentava olhar ao redor, mas as vistas estavam muito embaralhadas. Via minha irmã deitada calmamente como se estivesse dormindo. Sentia uma imensa vontade de levantar ir lá, bater palmas na cara dela e dizer: Ou acorda!! Como você consegue dormir sentindo tudo isso¿ Levanta grita filha! Vem ficar louca comigo! Mas claro, não fiz isso. Hahahaha.
Eu já não suportava mais todas aquelas sensações. Queria que parasse. Eu xingava baixinho, reclamava, me sacodia. Foi quando reparei na forte conexão da música com os nossos sentimentos. Quando os sons eram suaves vinha a paz o sono a calmaria. Mas do nada a musica vinha com novas batidas, tipo aquelas musicas de filmes da idade média. Nesses momentos parecia que ia explodir algo dentro de mim. Enxergava tudo muito turvo, mas tinha várias sensações de estar vendo coisas fora do contexto. Algumas visões, via índios dançando ao redor da fogueira que rapidamente sumiam pelo céu nas cinzas das labaredas. A lua olhava diretamente dentro do meu olho e sorria.
Quando as emoções eram ruins, e eram mais que as boas, eu sentia muita vontade de ir embora. Tampei os ouvidos e comecei a cantar alguma música, não lembro qual, no intuito de não ouvir as músicas que estavam modificando tanto meus sentimentos dentro de mim.
Tentei visualizar problemas pessoais, neuras, resoluções a serem tomadas, objetivos que queria alcançar. Mas durava poucos minutos. Sempre vinha os efeitos, as visões, os calafrios. Ouvia alguns gritos, sussurros, gemidos, nunca saberei se eram reais ou não.
Foram umas 2 horas e meia quando o rapaz que organiza agachou do meu lado com outro copo de chá, dizendo bebe é a segunda dose. 
Não tomei. Disse pra ele que queria que passasse logo. Ele não insistiu. 
Passado mais algum tempo as pessoas começaram a vomitar, levantar pra ir no banheiro, e eu nada. Nem embrulhando o estomago estava.
O Efeito foi passando muito lentamente. Mas sentia o chá circulando dentro de mim. Aliás, já são 02:37 e ainda sinto. 
Depois de 4 horas deitada resolvi sentar. Me sentia muito tonta, mas plena. Resolvi meditar, queria prolongar aquele momento o quanto podia. Voltei a ficar calma, olhava tudo com um sorriso leve no rosto sentindo uma boa paz a tempo não sentida.
A boca amargava um pouco, bebi água. Não vomitei, não fui ao banheiro, não senti náuseas, nada. Só os bons efeitos do chá. Acho que ele aflorou em mim, naquelas horas uma vida inteira de sentidos. Maximizou o que mais tenho que aprender a domar, e o que mais me faz sofrer, meus sentimentos. Pelas coisas, pelas pessoas, por mim mesma. Literalmente senti todas emoções que existe a flor da pele.
Vim embora com muitas vertigens ainda, mas senti que precisava escrever tudo isso. Dizem que o chá nos abre a mente para resoluções, pensamentos com mais clareza, memoria boa, rápido raciocínio, tudo voltado para nosso eu.
Espero colher esses frutos. Foi uma sensação única vivenciada até hoje por mim. Tenha plena certeza que o que você leu até agora aqui não passa nem de longe a experiencia única e intima que foi, impossível de ser transmitida fielmente em palavras.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Juízo Perdido

"Fúria, por que eu? A que viestes demônio da tormenta e discórdia? Minha fraqueza é sua luxúria? Tens rido de mim há dias, talvez meses! Intensificastes sem dó ou remorsos um animal dentro de um corpo humano que tem se desprovido aos poucos de sua própria alma deixando dominar a sua!

Calma, por que se afastas sem ao menos olhar pra trás?
O que lhe fiz de mal para que me abandone deixando que essa Besta insana se apodere de mim?

Paciência, tenho percebido uma angustiante contagem regressiva em você, Como uma ampulheta, onde a parte de baixo já está ao topo, terminando de recebe la esgotando seu final para um lado sem volta.

A cada dia que passa meus pensamentos se tornam mais altos que os sons e vozes ao meu redor... Significa isso estar chegando a tão temida hora?
A loucura?
Todos esses anos ela me rodeia, se achegando, se aconchegando... Tomando um lugar que parece ter nascido predestinado a ser seu.
O que tenho a fazer nesse caminho sem volta? Abraça la? Deixar a Besta furiosa dominar me e sempre lhe usar como defesa?
Ou simplesmente andar de mãos dadas, caminhando para o silêncio?"

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Quando os pensamentos ecoam mais alto


A solidão é algo engraçado. Não precisa estar sem ninguém por perto para se sentir solitário, basta não ter ninguém que te ouça. Não me refiro a ouvir palavras ditas, refiro a ser compreendido.
Acho que fui uma pessoa solitária quase que a vida toda. Disseram me uma vez que minha mãe sofreu tanto no parto da minha irmã mais velha que ela não conseguiu ficar feliz com minha concepção... foram além, e num momento de maldade me disseram também que ela foi pega tentando fazer um chá abortivo para me tirar. Pois bem, essa estorinha dizem ter sido escondida de mim porque eu ia ficar “traumatizada”, e que eu já era “revoltada” ia ficar muito mais.
Gente, nunca me senti inferior nem por isso nem por nada! Só acho que sempre tive o que merecia. E se tinham mais ou menos privilégios que eu, também seria por merecimento. E estranho, pois sempre tive esse sentimento de justiça desde que me entendo por gente.
Revoltada tenho certeza que sou mesmo. Mas minha maior e mais velha revolta da vida é exatamente o fato de nunca ter sido realmente compreendida. Como pode uma pessoa pensar tão coerentemente mas se expressar completamente diferente¿ Sempre tive dúvidas se sou eu que não explico direito ou se as pessoas que não me entendem. Daí então passei a duvidar da minha sanidade mental.
A cada dia que passa, o exterior a minha mente tem menos importância para mim. Aqui dentro tudo se encaixa, estórias, palavras, explicações, casos, tudo dá certo, tudo acaba bem. E cada vez mais coisas mirabolantes são acrescidas. Aqui vive todos os personagens da minha vida real, mas sabe de uma coisa¿ Aqui dentro eles me escutam. Sentam em adoráveis poltronas tomam um delicioso refresco preparado por mim, e conversamos todos juntos horas a fio! Minhas palavras fluem numa facilidade incrível. Todos me olham atentamente e degustam cada palavra, sentem o sabor delas veem as cores diversas de cada letra, aspiram calmamente o cheiro de todas sentenças.
Na maioria das vezes só escutam, mas vejo a compreensão em seus olhos. Outras vezes fazem perguntas, muitas delas. A cada resposta, nasce um novo argumento, um novo assunto, e converso a noite toda! Até amanhecer. E todos continuam atentos. 
Aqui dentro nunca estou errada. E cada vez menos quero sair.


Do lado de fora o silêncio tem sido cada vez maior.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Vamos Discriminar!!!

Hoje quero fazer um convite a todas as pessoas do mundo. 
Vamos deixar a discriminação falar mais alto, e nos unir para exterminar tudo que torna o mundo sujo, fétido e sem moral. 
É isso mesmo que você esta lendo: Vamos Discriminar!!!! 

Vamos parar de olhar na cara da falsidade. Com a franqueza se convive melhor. Vamos proibir de entrar em nossas casas o orgulho. A humildade nos aproxima das pessoas e deixa o verdadeiro amor transparecer. 
Vamos virar a cara para o egoísmo. Faça doações, doe pertences e sentimentos bons, isso realmente ajuda e engrandece nossas almas. 
Quero que a desumanidade seja banida do nosso convívio. Porque a fraternidade diminui distâncias. 
Quero que o racismo seja posto em um tronco e seja chicoteado até a morte. Pois a igualdade nos faz enxergar nossos defeitos e qualidades tendo com isso a oportunidade de melhorá-los. 
Não deixem que seus filhos brinquem com o preconceito e a maldade. Eles sim irão fazê-los um dia sofrer e com isso farão as pessoas sofrerem também. 
Não deixem matricular nas escolas a impaciência e a intolerância. Pois o dia a dia com elas é que levarão nossas crianças para o caminho da rebeldia. 
Desejo que o caráter duvidoso seja despedido do emprego. Porque a boa índole sempre irá nos mostrar como realmente somos e cultivaremos mais amizades e aprendizados. 
Desejo que a falta de respeito seja crucificada em praça pública. Porque o respeito ao próximo nos torna capazes de sentir compaixão. 
Desejo que o ódio esteja na sarjeta ladeado de lama. 
Pois o Amor quero do meu lado de banho tomado e cheiro de manhã. 
É... Realmente temos que ser radicais para o mundo se tornar um lugar melhor, discrimine tudo que for REALMENTE errado que estiver na sua frente, porque só depois disso tudo feito é que teremos um coração melhor pra abrigar pessoas e amores. 

Assusta-me como a maiorias das pessoas dão mais valor em defeitos do que em qualidades, e com isso perdem o real sentido da vida que é amar. Me recuso a estar num coração cheio desses sentimentos ruins e pouca fé no ser humano Nesse lugar não há espaço pra mim.

Fernanda Patrícia Pires

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Minutos

Ando por conta de imaginar seu beijo.
Queria conhecer a textura, o sabor.
Sentir seu hálito quente.
Saber se ele é tímido como você ou se nessa hora se deixa entregar.
Queria durante o beijo abrir meus olhos e deparar com os seus me olhando com desejo.
Ah esses olhos... Axo que tudo começou através deles. Uma transparência cristalina onde quando olho diretamente sinto um choque por dentro mas tento disfarçar o quanto eles me perturbam. Assim os evito.
Me pego por horas querendo sentir em pequenos minutos, sensações imaginadas por dias...
Não quero mais supor que será tão bom para você também.
Quero que tenha certeza logo.